Pular para o conteúdo principal

Homem que tentou salvar Ana Clara


Coletiva com Marcio Rony_foto Gferreira (3)
Márcio Rony está de volta para junto de sua família e diz que faria tudo de novo. (Foto: G.ferreira)
O entregador de frangos Márcio Rony da Cruz Nunes, de 37 anos, que teve mais de 70% do corpo queimado durante um dos ataques a ônibus em São Luís, no dia 3 de janeiro, deste ano, retornou para casa madrugada de ontem (14). A vítima do incêndio criminoso se recuperava no Centro de Referência de Queimados, em Goiânia (GO), desde o dia 8 do mesmo mês, onde deu continuidade a seu tratamento, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Márcio Rony foi recepcionado por familiares, por volta das 2h, no Aeroporto Internacional Marechal Hugo da Cunha Machado, seguindo direto para a casa dos pais, na Rua do Sonho, nº 124, no Bairro do Monte Alegre, em São José dos Índios – município de São José de Ribamar, onde deve permanecer enquanto necessitar de cuidados especiais.
De acordo com Márcio Rony, ele passou por 14 cirurgias, sendo quatro de enxertos de pele e em julho deve retornar para Goiânia, apenas para revisão do seu quadro clínico. Ele explicou que teve a visão afetada durante o incêndio, além da mobilidade nas pernas, pés e ombro. “Descobri também, durante o meu tratamento, que já tinha um sopro no coração, mas que foi agravado pelo trauma. No caso da minha visão, foi possível reverter o quadro e vou usar óculos, já para o tratamento das minhas articulações serão necessárias sessões de fisioterapia e acompanhamento médico. Continuo com a medicação, tomo em média seis comprimidos para as dores – que são muito fortes, e cicatrização, além da troca de curativos que tem de ser feita diariamente. Tenho que usar uma roupa especial e uso proteções para o rosto e mãos. O Estado tem custeado os remédios e o material dos curativos, que são feitos em casa mesmo pelas minhas irmãs. A pele continua ferida e o que já começou a cicatrizar ainda está muito sensível; tudo incomoda, as ataduras esquentam, coça muito, mas não me arrependo do que fiz por aquela família que foi tão vítima quanto eu, e se precisasse faria tudo de novo”, explicou.
Segundo o entregador de frangos, na noite do ataque, ele estava no Conjunto do Maiobão, por volta de 21h, e após perder uma van decidiu entrar no ônibus da linha Vila Sarney, a caminho de casa. Ele contou que 20 minutos depois, um homem fez parada, subiu dois degraus e após exibir uma arma de fogo anunciou que deveriam descer apenas mulheres e crianças. “Em seguida, outros homens apareceram e começaram a jogar gasolina no ônibus, e no momento de desespero todo mundo tentou sair. Atearam fogo no carro e jogaram gasolina no meu peito, foi então que pulei pela janela com o corpo já em chamas e me joguei numa poça de lama que olhei na frente. Ouvi os gritos da mãe da Ana Clara, procurando pela filha, então voltei e como estava com o corpo molhado me agarrei a ela no intuito de tentar apagar o fogo que também tomou conta da menina. Foi então que me jogaram mais gasolina nas cotas e meu corpo incendiou quase que por completo. Depois de toda essa tragédia e crueldade, populares nos socorreram e nos levaram para o Socorrão 2, depois disso só lembro de muita dor e sofrimento. A morte da menina me chocou bastante, só fiquei sabendo dois meses depois e por meio de noticiário, lamentei demais, pois além de ser humano, sou pai de cinco filhos e posso imaginar a dor dessa família”, declarou.
A técnica em radiologia e irmã de Márcio Eveline Nunes, de 43 anos, contou que passou os dois últimos meses em Goiânia, acompanhando o irmão. Ela disse que a outra irmã – Assunção Nunes, que estava com o paciente desde o início, estava bastante abalada emocionalmente e pediu um ‘reforço’ familiar. “Nós duas ficamos até o fim, pois nossos pais já são bem idosos e não teriam condições de fazer esse acompanhamento. Passamos por momentos difíceis e inenarráveis, afinal, havia dias de melhoras, reações e otimismo; porém, em outros, eram só incertezas e angústia, diante de sua visível debilitação. Encontramos muitos anjos, fizemos amigos, tivemos o apoio dos médicos e de pessoas sensíveis que se solidarizaram com o estado do Márcio e doaram durante uma campanha mais de 400 bolsas de sangue. Infelizmente, a recuperação de queimados é lenta e pode levar até dois anos ou mais. Por conta disso, o Estado ofereceu às vítimas um auxílio social, que ainda não sabemos o valor, mas que deverá durar enquanto o paciente estiver em tratamento. Agora que ele retornou para casa, precisamos cuidar da abertura de uma conta em seu nome para o recebimento do benefício”, disse.
SSP 2 apresenta presos na operação foto Handson Chagas - Cópia (1)
Criminosos suspeitos pelos ataques ocorridos contra ônibus e delegacias em São Luís
Márcio Rony da Cruz Nunes é casado, pai de cinco filhos – sendo dois meninos e três meninas, a mais nova tem um ano e três meses e a mais velha, dez anos. Ele estudou somente até o primário e não tinha emprego fixo. Em geral, Márcio trabalhava como estivador, mas atualmente ajudava a descarregar caminhões carregados de frango para uma empresa situada na Estrada de Ribamar.
Tempo de agradecer – A aposentada Marinete da Cruz Nunes, de 65 anos, mãe de Márcio, afirmou que o coração está mais tranquilo pela presença do filho em sua casa. “Não vou dizer que estou 100% tranquila, porque ver o Márcio nesse estado, ainda me dói, incomoda, porque sei o quanto ainda doem essas feridas o corpo e na alma. Mas somos uma família temente a Deus e ele vai nos dar o conforto do qual precisamos. Não pude ir até Goiânia, portanto, quero cuidar dele em minha casa e fazer tudo o que estiver ao meu alcance. Nesta noite (ontem), faremos um culto em ação de graças por sua vida, na Igreja Batista Nova Jerusalém, pois é tempo de agradecer”, concluiu.
Fonte: Jornal Pequeno

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Imprensa maranhense pede fiscalização de contratos em Vitória do Mearim de R$ 4.801.753,75 com uma única empresa

FAZENDO FESTA COM O DINHEIRO DO POVO

AÇÃO JUDICIAL POR OMISSÃO CONTUMAZ NO CASO DA PONTE DO JAPÃO